A Nona de Beethoven.

Ontem dediquei-me mais do que alguns minutos a Beethoven. O que mais me chamou a atenção não foi o primeiro movimento da Sinfonia (allegro ma non troppo, un poco maestoso), com seus trechos marcantes desde o início, num estrondo que imediatamente muda a freqüência do ouvinte e – delicadamente – prepara-o para o que vai vir.
Ao que me parece, Beethoven quis aproveitar toda a orquestra nesta Sinfonia, cada potencial ali presente e, conforme ela vai se desenrolando é possível perceber o uso de todo o conjunto, num trabalho harmônico maravilhoso e realmente complexo. E isso tudo somente no primeiro movimento.
Quando adentra no segundo (molto vivace), após algumas alfinetadas de um arguto violino, Beethoven eleva ainda mais a freqüência, colocando o expectador dentro do ritmo, que vai aumentando, aumentando, envolvendo, envolvendo, retirando-no dos nossos próprios pensamentos. Pan papann pan papan pan papan pan pan Vou confessar, coloquei a música quando estava lendo, mas no primeiro minuto do segundo movimento fechei os olhos, abri um sorriso e deixe-me conduzir pela ondulação dos violinos, flautas, de todo o conjunto misturado e perfeitamente combinado. Ao passar pelo segundo movimento, você já está em outro lugar. Aliás, quando vê, está de Maestro, com as mãos erguidas seguindo voluntariamente o ritmo intenso que adentra o corpo, querendo dar forma à música.
No terceiro (adagio molto e cantabile), o compositor nos dá um momento íntimo. Alivia os instrumentos, elevando-os em doçura e agradabilidade. Após retirar-nos os pensamentos, agora presenteia-nos com a beleza da música, num tom calmo e energizante, belíssimo!
Então, chegamos ao que interessa. Em Presto, Beethoven se torna Beethoven. Quem não ouve esse movimento e automaticamente se antena (“já ouvi isso….!”). Sim, é aqui que a nona se tornou milenar, conhecida no globo todo e fora dele. Com um pouco de mistério no início, ao toque de um sutil violoncelo, o movimento prende a atenção do ouvinte. Os violinos esboçam um início da nota suprema; os violoncelos voltam; e, em seguida, as flautas. Beethoven brinca com os instrumentos, criando uma atmosfera musical perfeita para trazer à tona o ponto central de toda a inspiração. Prepara os nossos ouvidos e, num tom ao fundo, surge o incompreensível (de tão belo). As notas vão sendo elevadas, mais instrumentos vão sendo incorporados, oh Senhor, muito obrigado! A alma vibra! Um sentimento de felicidade aquece o espírito, você se deixa levar pela magia de Beethoven na sua mais consagrada Sinfonia. Realmente…. é emocionante e maravilhoso.
Beethoven foi incrível. Ao prestar atenção com cuidado na Sinfonia, consegue-se perceber que Beethoven sabia o que fazia. Sua mente musical estruturando toda a harmonia para trazer, de forma perfeita e no momento perfeito, à Ode à Alegria!

No movimento final, as vozes marcantes por um grupo de solistas e um coral dá o toque divino: “O Freunde, nicht diese Töne!
 / Sondern laßt uns angenehmere / anstimmen und freudenvollere” [Ó, amigos, mudemos de tom! / Entoemos algo mais prazeroso / E mais alegre!].
A nona sinfonia incorpora parte do poema An die Freude (“À Alegria”), escrita por Friedrich Schiller. Dizem que foi o primeiro exemplo de um compositor (de porte) a se utilizar da voz humana numa sinfonia como o mesmo destaque dado aos instrumentos, abrindo campo para que o posteriormente viriam trabalhar os românticos (período musical subseqüente).
Que presente!
Recomendo a sua degustação. Dedique-se, todo o conjunto soma um pouquinho mais de 60 minutos, mas será uma hora de completo presente que você pode se dar!
De se escutar e agradecer.
E o quanto ainda se tem para aprender com a nona de Beethoven…. muito mais do que ouvi-la nove vezes, mas, em lembrança ao Mestre querido, noventa vezes nove (!).
Ah sim, ao tempo da composição e da estréia da nona (7 de maio de 1824), Beethoven já estava completamente surdo.
* Não sou conhecedor de música, tampouco de musica clássica. Aqui deixo apenas minhas simples impressões, como um aprendiz interessado em compartilhar seus sentimentos. Por isso, perdão aos que conhecem e às batatas aos que não compreendem.

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